O que Ford me ensinou sobre usuários

Ana Zyl
4 min readSep 5, 2021
A imagem mostra o logo da Ford

Posso dizer que Henry Ford tem um grande impacto na minha vida profissional há muitos anos, desde a época que iniciei a graduação em Desenho Industrial na PUC-Rio.

A imagem mostra a capa do livro Desenho Industrial, de John Heskett, e tem um carro vermelho

Foi no 2º período, na aula de História do Desenho Industrial com Claudio Lamas, que assimilei pela 1ª vez uma frase que permeia meu processo de Design desde então:

“Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito cavalos mais rápidos” (Henry Ford)

A imagem mostra Henry Ford ao lado de um carro antigo

Fora de contexto, algumas pessoas entendem que esta frase se refere ao fato de que o usuário não deve ser ouvido. Não é por aí. No contexto de uma boa faculdade de Design, não só essa frase faz muito sentido como ela justamente reforça que ouvir o usuário é fundamental, mas que há técnicas para não enviesá-lo e desta forma entender qual sua real dor, não a solução que ele acredita ser melhor pros seus problemas. Não perguntamos o que as pessoas querem, pesquisamos cuidadosamente pra descobrir o que de fato elas precisam.

A dor do usuário que Ford identificou era sobre a demora para chegar aos lugares, o desconforto de percorrer longas distâncias à galope e a falta de segurança no trajeto.

Talvez esse usuário acreditasse que cavalos mais velozes resolveriam seus problemas, já que chegando mais rápido nos lugares passariam menos tempo no cavalo e portanto teriam menos desconforto. Mas se tivéssemos nos limitado à uma solução trazida por ele, sem identificar a raiz das duas dores para projetar com base nisso, talvez nem mesmo os aviões existissem hoje. Afinal, eles são uma forma ainda mais rápida, confortável e segura pra percorrer longas distâncias do que os carros.

Como designers, temos a responsabilidade de projetar a partir da identificação de um problema, não da solução.

Muitos acreditam que trabalhar com User Experience é algo novo. Muitos acreditam que um Designer Gráfico ou Webdesigner podem “migrar” pra UX Design. Mas trabalhar com experiência do usuário é o que TODO designer faz desde sempre, ou pelo menos deveria fazer, independente do que ele projeta.

Fazer uma campanha publicitária, um aplicativo, um ticket de trem, um folheto ou o que quer que seja sem entender cenário, contexto e dores do usuário é um tiro no escuro.

Se você faz uma publicidade pra atrair aguém sem saber o que de fato o atrai, onde o calo dele aperta e até mesmo qual palavra faz com que ele realmente sinta uma identificação com o que você está vendendo, suas chances de convencê-lo são infinitamente menores. Um layout não tem que ser bonito pro seu chefe, ele tem que se comunicar com o universo do usuário.

Aliás, foi também na faculdade de Desenho Industrial que aprendi sobre pesquisar sem enviesar o usuário. Metodologias ensinadas por Claudia Mont’alvão, professora de ergonomia, também me acompanham desde a graduação.

Então um Designer não “migra” pra UX Design. Se só agora esse profissional passou a levar esses pontos em consideração e reconheceu a importância da pesquisa, de um processo estratégico pra projetar com propósito e, acima de tudo, do usuário… não é que agora ele virou um UX Designer: agora sim ele é um Designer.

Infelizmente muitas agências e empresas ainda não compreendem isso. Passei por muitas delas, sempre com uma batalha pessoal a favor do usuário, porque foi o que sempre fez sentido pra mim.

Quando escolhi fazer Desenho Industrial eu sabia que tinha muito a ver comigo mas não tinha ideia do quanto de mim havia naquilo. Do quanto projetar significava olhar pro outro pra entendê-lo pelo ponto de vista dele e não do meu, e que ele sente muito além do que fala. A cada aula, a cada frase, minha paixão pela profissão só fazia aumentar.

No começo deste artigo menciono que Henry Ford tem um grande impacto na minha vida profissional há muitos anos, pelo conceito que traz em uma frase. Mas ela também gera uma grande reflexão sobre a vida pessoal, porque tem a ver com a gente se empenhar pra entender o que o outro realmente sente e ter empatia, independente de quem ele é.

Unlisted

--

--

Ana Zyl

Sou uma UX Designer completamente apaixonada por buscar soluções que estejam de fato baseadas nas reais necessidades do usuário.